Fiocruz lança guia Baleias, botos e golfinhos na Bacia de Campos

A preservação da fauna e do meio ambiente depende de muitos fatores, mas um deles é condicionante: o conhecimento. Esse pressuposto está por trás do guia Baleias, botos e golfinhos na Bacia de Campos, organizado pelo pesquisador Salvatore Siciliano, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). 

O livro cataloga todas as espécies de cetáceos com ocorrência confirmada na região e traz informações sobre sua correta identificação, biologia, comportamento e principais ameaças.

"A principal contribuição do guia é divulgar essa fauna marinha. As pessoas só vão se preocupar em preservar na medida em que souberem da existência e da importância desses animais. O avanço que conseguimos nesse sentido é que colocamos as informações científicas em uma linguagem acessível", disse Siciliano à Agência FAPESP. 
Boto Cor-de-Rosa

Durante dois anos, o grupo liderado pelo pesquisador realizou um trabalho de biomonitoramento dos cetáceos com foco na Bacia de Campos, região de 100 mil quilômetros quadrados que vai de Cabo Frio (RJ) às proximidades de Vitória (ES). 

"Na realidade, o estudo compreendeu uma área maior, que incluiu as bacias sedimentares. Fizemos quatro cruzeiros durante esse período e um deles foi de Itajaí (SC) até a Ilha de Trindade (ES)", explicou o biólogo. 

A particularidade que torna a Bacia de Campos importante para esse tipo de estudo, segundo ele, é o fenômeno da ressurgência. "Trata-se do afloramento das águas mais frias, que aumentam em muito a produtividade pesqueira local. Como há mais peixes, há também mais alimento para aves, golfinhos, baleias. O resultado é uma imensa biodiversidade marinha", explica. 

Além da observação a partir dos cruzeiros, conduzidos em projetos do Centro de Pesquisas da Petrobras em parceria com a Ensp, foram coletadas informações sobre os animais encalhados ou avistados das praias. Cada espécie no guia tem pelo menos uma foto. A publicação inclui também mapas detalhados da distribuição das espécies ao longo da costa. 

Equipes de oito a dez observadores trabalhavam durante o dia. Utilizavam binóculos reticulados para localização ativa e observação dos cetáceos. "As fotos foram feitas sempre a partir da nossa região de trabalho. Não usamos arquivo, pois queríamos que o livro traduzisse exatamente nossa observação", disse Siciliano. Pelo menos 27 espécies de golfinhos e baleias com dentes, como cachalotes, foram assinaladas, além de oito espécies de baleias com cerdas bucais. 

Indicador de qualidade do meio ambiente 

O pesquisador da Ensp explica que alguns golfinhos são utilizados como indicador de qualidade do ambiente. Espécies como o boto-cinza (Sotalia guianensis) são modelo para estudar o processo de degradação da natureza. "Eles são muito abundantes, por exemplo, em Cananéia (SP), que é uma área muito preservada. Mas em locais como as baías de Guanabara e de Santos, há apenas uma população residual", afirmou. 

Nos animais encalhados, os pesquisadores estudaram várias patologias decorrentes do contato com efluentes industriais. "Identificamos anomalias ósseas desenvolvidas pela contaminação com bactérias patogênicas. Estamos usando o boto-cinza como modelo para entender isso e apontar como o ambiente costeiro sofre com a ocupação humana", disse. 
Fundação Oswaldo Cruz - Rio de Janeiro - RJ

Segundo Siciliano, os cetáceos circulam em uma área ampla e há doenças emergentes em determinados locais. "Em parceria com o Departamento de Bacteriologia da Fiocruz, observamos que esses animais transportam bactérias de interesse na saúde pública", disse. 

A principal ameaça aos cetáceos, identificada no estudo, vem da interação dos animais com a atividade de pesca — principalmente para os botos e golfinhos. "Em segundo lugar aparece a questão da degradação do meio ambiente. Mas a principal causa de mortalidade são mesmo as operações de pesca artesanal, com a chamada rede de emalhe", explica Siciliano. 

O livro, publicado pela Editora São Miguel, pode ser adquirido na livraria da Abrasco, na Ensp, rua Leopoldo Bulhões 1.480, Manguinhos, Rio de Janeiro.

Fonte:
Fapesp

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