Se baleia respira oxigênio, por que morre quando encalha?

A morte se dá por fatores como aumento de temperatura corporal e compressão de órgãos internos. Na verdade, cerca de 80% das baleias encalhadas chegam à praia mortas e as sobreviventes muito debilitadas. Só este ano, 57 baleias foram encontradas na costa brasileira e, apesar de os encalhes serem acidentais, alguns cientistas acreditam que animais extremamente machucados nadem em direção à praia como último recurso para manter o orifício respiratório fora da água e conseguir respirar. A teoria ainda não foi comprovada, mas as chances de sobrevivência são baixas e o tempo para socorro é curto – no máximo uma semana. Além disso, o resgate requer apoio de instituições autorizadas e do corpo de bombeiros para manejar as toneladas dos bichos. As sobreviventes são devolvidas ao mar e as carcaças das que não resistiram vão para institutos de pesquisa para serem estudadas e, em seguida, enterradas com apoio de tratores e máquinas.

Terra firme e hostil

Peso e temperatura elevados debilitam mortalmente os gigantes mamíferos

Folga para respirar

As baleias sobem até a superfície para inspirar oxigênio e quando estão submersas ficam sem respirar. Como elas conseguem? Bem, para começar, elas têm pulmões até mil vezes maiores que os nossos. Além disso, são eficientes e aproveitam cerca de 90% do oxigênio inalado, já que têm mais hemácias no sangue e mais mioglobina nos músculos

Carga pesada

Uma baleia pode ter entre 30 a 180 toneladas e só se move no oceano porque a água sustenta o peso. Na terra, a gravidade faz as toneladas comprimirem a circulação em órgãos vitais, como fígado, coração e pulmões. Sem conseguir respirar e transportar oxigênio para as células do corpo, o bicho não resiste

Morte em alto-mar

Se a maioria já chega sem vida à praia, como elas morrem? As causas podem ser tanto naturais como envelhecimento, doenças e ataques de predadores, como fruto da ação humana. Muitas morrem em colisões com navios, presas em redes de pesca e, claro, por causa da poluição, que contamina as baleias e sua cadeia alimentar

Não pode vir quente

Assim como os demais mamíferos, a baleia mantém a temperatura corporal por volta de 37ºc. Para se proteger das águas geladas, a pele tem até 40 cm de gordura. Quando ela encalha, essa camada não deixa o calor se dissipar, causando desidratação e até convulsões (se a temperatura atingir 42ºc). Tudo isso pode levar o animal à morte

Consultoria: Milton Marcondes, veterinário e diretor de pesquisa do Instituto Baleia Jubarte

Fontes:
Site Eco Desenvolvimento 
IG
Scientific American Brasil
Site Mundo Estranho - Editora Abril

Fiocruz lança guia Baleias, botos e golfinhos na Bacia de Campos

A preservação da fauna e do meio ambiente depende de muitos fatores, mas um deles é condicionante: o conhecimento. Esse pressuposto está por trás do guia Baleias, botos e golfinhos na Bacia de Campos, organizado pelo pesquisador Salvatore Siciliano, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). 

O livro cataloga todas as espécies de cetáceos com ocorrência confirmada na região e traz informações sobre sua correta identificação, biologia, comportamento e principais ameaças.

"A principal contribuição do guia é divulgar essa fauna marinha. As pessoas só vão se preocupar em preservar na medida em que souberem da existência e da importância desses animais. O avanço que conseguimos nesse sentido é que colocamos as informações científicas em uma linguagem acessível", disse Siciliano à Agência FAPESP. 
Boto Cor-de-Rosa

Durante dois anos, o grupo liderado pelo pesquisador realizou um trabalho de biomonitoramento dos cetáceos com foco na Bacia de Campos, região de 100 mil quilômetros quadrados que vai de Cabo Frio (RJ) às proximidades de Vitória (ES). 

"Na realidade, o estudo compreendeu uma área maior, que incluiu as bacias sedimentares. Fizemos quatro cruzeiros durante esse período e um deles foi de Itajaí (SC) até a Ilha de Trindade (ES)", explicou o biólogo. 

A particularidade que torna a Bacia de Campos importante para esse tipo de estudo, segundo ele, é o fenômeno da ressurgência. "Trata-se do afloramento das águas mais frias, que aumentam em muito a produtividade pesqueira local. Como há mais peixes, há também mais alimento para aves, golfinhos, baleias. O resultado é uma imensa biodiversidade marinha", explica. 

Além da observação a partir dos cruzeiros, conduzidos em projetos do Centro de Pesquisas da Petrobras em parceria com a Ensp, foram coletadas informações sobre os animais encalhados ou avistados das praias. Cada espécie no guia tem pelo menos uma foto. A publicação inclui também mapas detalhados da distribuição das espécies ao longo da costa. 

Equipes de oito a dez observadores trabalhavam durante o dia. Utilizavam binóculos reticulados para localização ativa e observação dos cetáceos. "As fotos foram feitas sempre a partir da nossa região de trabalho. Não usamos arquivo, pois queríamos que o livro traduzisse exatamente nossa observação", disse Siciliano. Pelo menos 27 espécies de golfinhos e baleias com dentes, como cachalotes, foram assinaladas, além de oito espécies de baleias com cerdas bucais. 

Indicador de qualidade do meio ambiente 

O pesquisador da Ensp explica que alguns golfinhos são utilizados como indicador de qualidade do ambiente. Espécies como o boto-cinza (Sotalia guianensis) são modelo para estudar o processo de degradação da natureza. "Eles são muito abundantes, por exemplo, em Cananéia (SP), que é uma área muito preservada. Mas em locais como as baías de Guanabara e de Santos, há apenas uma população residual", afirmou. 

Nos animais encalhados, os pesquisadores estudaram várias patologias decorrentes do contato com efluentes industriais. "Identificamos anomalias ósseas desenvolvidas pela contaminação com bactérias patogênicas. Estamos usando o boto-cinza como modelo para entender isso e apontar como o ambiente costeiro sofre com a ocupação humana", disse. 
Fundação Oswaldo Cruz - Rio de Janeiro - RJ

Segundo Siciliano, os cetáceos circulam em uma área ampla e há doenças emergentes em determinados locais. "Em parceria com o Departamento de Bacteriologia da Fiocruz, observamos que esses animais transportam bactérias de interesse na saúde pública", disse. 

A principal ameaça aos cetáceos, identificada no estudo, vem da interação dos animais com a atividade de pesca — principalmente para os botos e golfinhos. "Em segundo lugar aparece a questão da degradação do meio ambiente. Mas a principal causa de mortalidade são mesmo as operações de pesca artesanal, com a chamada rede de emalhe", explica Siciliano. 

O livro, publicado pela Editora São Miguel, pode ser adquirido na livraria da Abrasco, na Ensp, rua Leopoldo Bulhões 1.480, Manguinhos, Rio de Janeiro.

Fonte:
Fapesp

Consciência Cetácea (Espanhol)

Documentário NatGeo - Quando baleias possuíam patas (Inglês)

Habitantes dos Mares: Mamíferos - Os Cetáceos

Santuário de Baleias do Atlântico Sul

A Comissão Internacional Baleeira (CIB), organismo internacional formado por mais de 80 países, tem como foco de atuação a conservação de baleiras e a gestão de sua caça. Desde 1998, propõe a criação do Santuário de Baleias do Atlântico Sul, evidenciando a importância de parcerias transfronteiriças na gestão de projetos de conservação.

Durante o século XX, cerca de 2,9 milhões de baleias foram mortas em todo o mundo, levando a diminuição dos estoques de baleias em todos os oceanos. Aproximadamente 71% das baleias caçadas no mundo foram mortas no hemisfério sul. Baleias fin, cachalote, azul, jubarte, sei, franca e minke foram as espécies mais caçadas no Oceano Austral (Atlântico Sul e a Antártida). Todas são consideradas ameaçadas de extinção mundialmente ou no Brasil. Para tentar contornar esse cenário, foi estabelecida uma "moratória" sobre a caça comercial, que entrou em vigor em 1985. Entretanto, outras atividades humanas passaram a ameaçar baleias e outros cetáceos, como a captura acidental, poluição sonora, poluição marinha (química e por lixo, principalmente plástico), colisão com navios, animais enroscados em redes, e mudanças climáticas.

Para garantir a recuperação das populações de baleias, foi proposta a criação do Santuário de Baleias do Atlântico Sul, que visa manter ou aumentar os níveis dos estoques das diferentes espécies de baleias que ocorrem na região, mitigando ameaças para essas populações.

Pelo menos 51 espécies de cetáceos habitam as águas do Oceano Atlântico Sul. Seis delas (azul, fin, sei, minke Antártica, jubarte e franca) são baleias altamente migratórias que se alimentam nos oceanos Antártico e Subantártico durante o verão e se reproduzem em águas tropicais, subtropicais e temperadas no inverno e primavera. Outras espécies de destaque que também serão protegidas pelo Santuário são: cachalote, bryde e pigmeia, além das Toninhas, espécie endêmica, menor e mais ameaçado cetáceo do Atlântico Sul.

O Santuário da Antártica seria seu limite e, juntos, protegeriam todas as baleias que visitam as águas jurisdicionais brasileiras, bem como as da Argentina e do Uruguai, e de todo litoral sudoeste do continente africano.

O Santuário também pretende promover, de forma coordenada, pesquisa científica não-letal e não-extrativa na região, especialmente em países em desenvolvimento, por meio de cooperação internacional com a participação ativa da CIB. Entre seus objetivos, constam o desenvolvimento do uso econômico sustentável, não extrativo e não-letal de baleias para o benefício das comunidades costeiras na região (por exemplo, observação de baleias e atividades educacionais), a integração entre pesquisa nacional, esforços de gestão e estratégias de conservação em uma estrutura cooperativa, maximizando a eficácia na gestão.

A partir do desenvolvimento de pesquisa não letal, será possível fazer o monitoramento da recuperação das populações de baleias quase extintas, analisar as ameaças e as medidas de mitigação (intervenção humana com o intuito de reduzir ou remediar um determinado impacto ambiental nocivo), além de estabelecer projetos e iniciativas para melhor compreender as rotas migratórias e os padrões de movimento desses animais.
O Santuário de Baleais do Atlântico Sul promoverá a coordenação entre áreas protegidas, seja no âmbito nacional ou no de outras iniciativas internacionais relevantes, como a Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural da UNESCO e o MAB – Programa Homem e a Biosfera, em prol da conservação dos Cetáceos.

A proposta do Santuário não é inédita, foi anunciada pela primeira vez na 50ª reunião da CIB, que aconteceu no Sultanato de Omã. Em 2001, na 53ª reunião, a proposta foi avaliada pela primeira vez, mas não foi adotada. Nas reuniões seguintes, conseguiu os votos da maioria dos Estados Membros da CIB, mas não 75% dos votos necessários para sua aprovação. Na 65ª reunião da CIB, em 2014, foi reapresentada pelo Brasil, em conjunto com a Argentina, África do Sul, Uruguai e Gabão, quando 69% dos Estados Membros votaram em favor do Santuário de Baleias do Atlântico Sul.

Para a próxima reunião da CIB, a ser realizada entre os dias 20 e 28 de outubro deste ano, em Portoroz - Eslovênia, o Brasil, em conjunto com os demais países proponentes, reapresentará a proposta, que foi atualizada, com a inclusão de Plano de Manejo do Santuário atendendo plenamente às recomendações do Comitê Científico da CIB, referendado na última reunião deste comitê realizada na Eslovênia em Junho/2016.
Para ampliar as chances de aprovação e divulgar essa importante iniciativa dos governos do Brasil, Argentina, Uruguai, África do Sul e Gabão em prol da conservação das grandes espécies de cetáceos que habitam o Atlântico Sul, no dia 18 de agosto será lançada uma campanha global pró Santuário, cujo objetivo é sensibilizar e engajar a sociedade na mobilização de seus países em prol das baleias.

O WWF-Brasil apoia a criação do Santuário e, por meio do Programa Marinho, além de ser parceiro de organizações locais para o monitoramento de cetáceos na costa carioca, também atua em conjunto com outros países no desenvolvimento de ações de conservação desses animais.

Segundo Anna Carolina Lobo, coordenadora do Programa, “por se tratarem de animais de grande mobilidade, é necessária uma visão integrada de paisagem. O trabalho que desenvolvemos com a Fundación Vida Silvestre, da Argentina, no âmbito da conservação da Toninha, é fruto desse pensamento.” Ela também mostra seu suporte à empreitada da CIB, porque “esse pequeno cetáceo, o mais ameaçado do Atlântico Sul, ainda que não seja uma baleia, também será beneficiado com a criação do santuário.”.

Fonte: 

Lista de Cetáceos